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Trigo para o cultivo de sequeiro e irrigado em Minas Gerais

Trigo para o cultivo de sequeiro e irrigado em Minas Gerais

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Trigo tolerante à doença e resistente à seca é alternativa para cultivo no inverno. Foto: Maurício Coelho / Ascom EPAMIG

(Patos de Minas, 13.12.2016) A cultura do trigo avança pelo Brasil. Só em Minas Gerais, em pouco mais de 10 anos, a produção saltou de 20 mil para 245 mil toneladas (em 2015) ocupando o terceiro lugar no país. Para dar suporte técnico aos triticultores, experimentos de vários projetos de pesquisa, que visam o desenvolvimento de cultivares de trigo sequeiro para Minas Gerais, estão sendo conduzidos pela EPAMIG, no Campo Experimental Sertãozinho de Patos de Minas, em parceria com a Embrapa Trigo. Pesquisadores identificam cultivares mais produtivas, tolerantes às doenças e resistentes à seca.

Durante o Workshop Trigo Tropical, realizado em Passo Fundo, RS, o pesquisador da EPAMIG Maurício Coelho apresentou resultados da pesquisa para o controle da doença do trigo, denominada brusone, que pode acabar com uma lavoura inteira. Resultados como este serão divulgados também em eventos programados para o próximo dia 15, em Patrocínio, e no mês de fevereiro, em Araxá, quando vão também apresentar pesquisas e reunir demandas do setor.

As altas temperaturas associadas à alta umidade na folha do trigo são fatores favoráveis ao desenvolvimento da doença. Uma alternativa, segundo o pesquisador, é trabalhar com seleção de materiais tolerantes à seca e fazer o plantio no final do período das chuvas, a partir de meados de março, quando as temperaturas já estão mais baixas, fator climático que desfavorece o fungo causador da doença. Outra opção, caso o plantio tenha que ocorrer mais cedo, é trabalhar com material tolerante à doença.

Com o avanço das pesquisas e maior acesso a informações técnicas, o produtor descobriu que a rotação com esta cultura traz não só vantagens diretas obtidas com a venda do grão, mas também possibilita vantagens indiretas por meio da palha residual do trigo. “O custo de produção da cultura de verão diminui, pois normalmente não há necessidade de aplicar herbicida dessecante para implantação e ocorrerá redução com aplicação de fungicidas para controlar doenças”, afirma o pesquisador. Ele explica que isso ocorre porque a palha residual do trigo na lavoura, é bem resistente e demora a se decompor, proporcionando manutenção da umidade por um período mais prolongado, reduz o potencial de multiplicação de algumas doenças das culturas de verão e promove proteção do solo formando uma barreira física que impede a germinação de sementes das plantas invasoras.

O produtor Eduardo Abraim, há 18 anos iniciou o plantio de trigo irrigado na sua propriedade em Araguari, MG, quando procurava uma opção para safra de inverno. Ele recorda que na época existiam poucas informações técnicas sobre o plantio e quase nenhuma sobre variedades de trigo. Foi então que começou a estudar o assunto. “Com o advento da ferrugem asiática, as pesquisas buscaram variedades de soja com ciclo mais curto e, assim, abriu espaço para a safrinha. Começamos então a testar o trigo na safrinha e a cultura se mostrou viável economicamente e com muitos benefícios para o sistema produtivo”, diz.

De acordo com o produtor, hoje, os triticultores contam com informações das pesquisas conduzidas pela EPAMIG e Embrapa alinhadas com a demanda da indústria, que busca produtividade e qualidade, e do produtor, que busca principalmente materiais tolerantes a doenças. “Esse trabalho disponibiliza, no mercado, várias cultivares recomendadas para o cultivo de sequeiro e irrigado em Minas Gerais”, afirma. A Embrapa lançou em 2015 duas novas cultivares para cultivo no Estado: a BRS-404 para cultivo de sequeiro, e a BR-394 para cultivo irrigado. São cultivares plenamente adaptadas às condições edafoclimáticas de Minas, com alta produtividade e excelente qualidade industrial.

Adaptação de cultivares

A EPAMIG possui a cultivar Brilhante. De acordo com o pesquisador Maurício, para ser lançada uma nova cultivar exige-se registro no Ministério da Agricultura e comprovação da eficiência da pesquisa, que pode demorar de 8 a 10 anos. “Entre as diversas etapas, temos que selecionar milhares de linhagens, testar por quatro ou cinco anos, especificar a qualidade, aptidão e informar suas características para quem vai comprar as sementes. Atualmente, diversas linhagens estão sendo avaliadas nas fases finais do desenvolvimento de novas cultivares, pela EPAMIG e pela Embrapa, visando maior tolerância à seca e à brusone”, informa.

Na região do Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas os setores produtivo e da pesquisas movimentam para conhecer melhor a cultura do trigo buscando cultivares adaptadas. Recentemente, a EPAMIG recebeu uma nova demanda. Durante visita técnica ao Campo Experimental de Sertãozinho, profissionais ligados a grandes empresas agrícolas da região destacaram seu interesse por cultivares que produzem muita palha e grão para atender ao mercado de ração animal.

Toda esta movimentação se dá pela expectativa de avanço na cultura do trigo na região tropical do Brasil. Nos últimos anos o país vem produzindo de 30% a 50% das 10 milhões de toneladas de trigo que consome por ano. Além disso, existe uma grande demanda mundial, já que o estoque atual de trigo no mundo é baixo.

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