Trabalho comprovou que uso de bactérias anammox no tratamento biológico de efluentes sanitários e industriais reduz emissão de N2O, poderoso gás de efeito estufa
(Belo Horizonte – 29/5/2023) O Instituto Tecnológico de Agropecuária de Pitangui (ITAP), vinculado à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), foi destaque no 32º Congresso da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), que reuniu cerca de 7 mil pessoas em Belo Horizonte, entre os dias 21 e 24 de maio. Durante a cerimônia de encerramento, o professor, e coordenador de pós-graduação da EPAMIG ITAP, Tiago Duarte Santos Pereira, foi agraciado com o prêmio de Melhor Trabalho Técnico Oral, dentro da temática “Efluentes sanitários e industriais”.
Considerado o maior encontro da área de saneamento ambiental do país, o Congresso da ABES, que ocorre de dois em dois anos, foi dividido em 60 painéis e sediou apresentações de mais de 1.000 trabalhos na modalidade oral, sobre temas como tratamento e abastecimento de água; tratamento de efluentes sanitários e industriais; resíduos sólidos; gestão institucional e empresarial do saneamento; saúde pública; eficiência energética, entre outros.
Dentre as pesquisas apresentadas estava a de Tiago, intitulada “Impacto das condições nutricionais e operacionais de reatores anammox na emissão de óxido nitroso durante a remoção biológica de nitrogênio”. O trabalho, que tem co-autoria dos pesquisadores Guilherme Lelis Giglio e Márcia Helena Rissato Zamariolli Damianovic, trata do processo de remoção biológica do nitrogênio em estações de tratamento de efluentes via processo anammox, e apresentou conclusões importantes para a redução das emissões de óxido nitroso (N2O), poderoso gás de efeito estufa.
“O processo anammox, realizado por microrganismos no ciclo do nitrogênio, gera importantes benefícios no tratamento de águas residuárias. Quando comparado ao processo convencional de nitrificação-desnitrificação, o anammox reduz em 60% a demanda energética de aeração e apresenta produção de lodo aproximadamente 90% menor, o que reflete em redução de custo e, conseqüentemente, maior sustentabilidade do sistema”, explica Tiago Duarte, que é professor das disciplinas de Poluição Ambiental, Reuso Agrícola, Gerenciamento e Uso de Recursos Hídricos, dentre outras, na EPAMIG ITAP.
“Nosso trabalho comprovou que esse processo inovador, quando operado em determinadas condições, pode contribuir para a redução de emissões de óxido nitroso (N2O), que é um gás de efeito estufa 300 vezes mais potente e prejudicial que o gás carbônico (CO2 )”, completa o professor.
Universalização do saneamento
Tiago destacou ainda um dos temas centrais do Congresso: a universalização do saneamento no Brasil e os desafios para sua sustentabilidade. De acordo com dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS), cerca de 35 milhões de brasileiros enfrentam a falta de acesso à água tratada, enquanto quase 100 milhões ainda não possuem coleta adequada de esgoto. “Para piorar, apenas 45% dos esgotos coletados são tratados. A realidade brasileira, infelizmente, é que a água limpa e o tratamento de esgoto ainda são muito pouco acessíveis. Então, o congresso foi importante para avançarmos nas discussões sobre políticas públicas voltadas à universalização do saneamento básico, que é essencial para a qualidade de vida das pessoas”, comenta.
Agropecuária de Precisão
Tiago Duarte conta que os debates também foram proveitosos para o campo da Agropecuária de Precisão, pois temas trabalhados na área foram discutidos ao longo do evento, como formas sustentáveis de produção de energia a partir dos resíduos das atividades agrícolas e técnicas de conservação de solo e água, a exemplo da fertirrigação e da manutenção de cobertura vegetal.
“A sustentabilidade que buscamos no campo pode ser otimizada com os avanços da tecnologia. Existem processos biológicos, como a digestão anaeróbia, por exemplo, que podem produzir metano ou hidrogênio a partir da degradação de resíduos orgânicos gerados pela atividade agropecuária e esse biogás pode ser utilizado para gerar energia para a própria fazenda”, destaca o coordenador de pós-graduação da EPAMIG ITAP. “Hoje em dia, já há fabricação de tratores movidos a biometano, por exemplo. Então é uma forma de produzir combustível de forma bem mais sustentável”, conclui.
