Os aspectos técnicos do cultivo e manejo da palma forrageira foram os principais temas do segundo dia do VI Congresso de Palma e Outras Forrageiras para o Semiárido, realizado este ano em conjunto com o Palmatech 2023. Indicações de maquinários, técnicas para plantio e colheita, além de informações para o produtor tirar o melhor da planta no âmbito nutricional e econômico foram compartilhados por 16 palestrantes. O fechamento do dia ficou por conta do chef Marco Meléndez, que, com o preparo de receitas, mostrou a palma como o alimento do futuro para os animais, e a potencial queridinha das mesas brasileiras.
Na principal palestra da sexta-feira (20/10), o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa) e vice-presidente de Secretaria da CNA, Mário Borba, falou sobre sua experiência profissional em regiões semiáridas como México, Marrocos e Espanha, destacando diferenciais competitivos da palma nesses locais como a valorização da atividade e a credibilidade da produção, que tem números expressivos de certificações de produtos de origem.
Segundo ele, os estados brasileiros estão dedicados à diversas pesquisas e, atualmente, pode-se afirmar que a maioria dos avanços relacionados ao setor foram alcançados pela participação efetiva do Sistema CNA. “Lutamos contra um sistema e precisamos fortalecer sindicatos e federações. As barreiras são muito grandes, mas precisamos superá-las. O mundo precisa da nossa agricultura e o Brasil é um dos países mais promissores do mundo”, avaliou.
Mudança de paradigmas
Com uma abordagem técnica e bem-humorada, o zootecnista Alberto Suassuna, um dos principais nomes no estudo da palma forrageira no Brasil, falou sobre sistema intensivo de produção de palma para colheita mecanizada. Com questionamentos polêmicos, Suassuna estimulou o público a participar de sua linha de raciocínio. “Palma não é uma forragem, é um concentrado energético. A umidade à semiaridez ambiental e a prevalência na alimentação animal são forças e oportunidades desse concentrado”, iniciou.
Suassuna também apresentou o termo “miragem social”, e explicou que significa uma falsa sensação de proteção da atividade na fazenda. De acordo com ele, “muitos estão se norteando de forma equivocada. O produtor que não tiver palma plantada e passar pela seca, perde o seu patrimônio”.
“Ainda não temos o hábito de plantar palma e possuímos baixo número de plantas por hectare. A palma tem que ser além do último recurso, pois os usos são múltiplos e o sucesso na alimentação de ruminantes é significativo”, finalizou.
Difusão de conhecimento
Nos dois dias de apresentações técnicas, o congresso reuniu também uma diversidade expressiva de trabalhos e estudos em forma de pôsteres. No espaço “Trabalhos Científicos” estiveram expostos 62 trabalhos, representando quase a totalidade dos resumos inscritos nas avaliações conduzidas pelos pesquisadores da EPAMIG e outras diversas instituições.
“Tivemos trabalhos de alta qualidade, muitos em andamento, o que apresenta um horizonte de muitos novos resultados. A grande maioria das propostas também integra programas de pesquisa, mostrando, portanto, que equipes foram formadas em diferentes pontos do semiárido, uma área muito diversa que exige essas diferentes frentes de estudo e isso ficou demonstrado no evento”, indicou a pesquisadora da EPAMIG e coordenadora da comissão científica do Palmatech, Maria Geralda Vilela. Entre as palestras do Congresso, os estudantes puderam apresentar seus trabalhos aos avaliadores e para o público presente. “A presença de estudantes integrando essas equipes de pesquisa demonstra ainda seu vigor, renovação e ampliação”, denota Maria Geralda.
Determinado a participar do Congresso, o estudante Philip Moab encontrou uma solução criativa e econômica para estar presente. Sem recursos financeiros para arcar com o deslocamento de Pernambuco a Montes Claros, ele pediu caronas em caminhões para chegar ao evento.
Com um currículo robusto, Philip estuda e trabalha com a palma forrageira há mais de 10 anos, já defendeu um TCC sobre o tema e, agora, para a conclusão da licenciatura em Biologia, tem a palma como objeto de estudo. “É a área que escolhi, gostei e me identifiquei. Estar no Congresso é muito importante para mim, pois posso apresentar meus trabalhos e estar em contato com outros estudiosos”, disse Phillip.
Os participantes assistiram, ainda, aos seguintes conteúdos:
Manejo nutricional da palma – Sérgio Donato (IFBaiano): Falando sobre o manejo nutricional da palma forrageira, Sérgio Donato focou nos fatores determinantes da produtividade do agroecossistema palmal, na exportação de nutrientes pelo cultivo, no incremento da produtividade e na qualidade da palma forrageira com adubação. “Apresentamos um balanço nutricional simplificado, considerando as entradas via fertilizantes, químico e orgânico, e as saídas via produtividade de diferentes cultivares, bem como uma sugestão de adubação para plantio e manutenção do palmal e os valores de referência para a avaliação do estado nutricional da palma forrageira”, detalhou.
Gramíneas Forrageiras para o Semiárido – Thiago Braz (UFMG): “Com o papel importante que a pecuária tem no agronegócio, precisamos conhecer o capim usado nas pastagens, saber quais se adaptam melhor ou não, quais são os mais produtivos e quais vão proporcionar uma resposta e vão proporcionar também maior sustentabilidade para esses sistemas”, aconselhou o palestrante. Thiago ainda destacou a importância do capim para o sistema de produção em pasto, apresentou algumas opções de plantas para pastagens e suas exigências.
Palma forrageira: Lavoura eficiente como mecanismo de redução de custos na pecuária do Semiárido – José Thyago Aires (INSA): em sua fala, José Thyago mostrou o quanto a palma é eficiente, até mais do que lavouras tradicionais, e consegue produzir um volume bem maior de massa forrageira do que elas. “É uma planta rica em energia e consegue substituir 100% do milho na dieta de ruminantes. A planta consegue vegetar durante o período seco, quando você pega dois, três anos de seca consecutiva, não tem capim que resiste, a palma está lá produzindo e vegetando e mantendo os animais”, disse.
Utilização de palma na alimentação de vacas leiteiras no Norte de Minas – Vicente Rocha Jr. (Unimontes): O professor da Universidade Estadual de Montes Claros falou sobre a utilização da palma forrageira na alimentação de vacas leiteiras, especificamente no Norte de Minas. Ele abordou principalmente as potencialidades nutricionais da palma, as limitações da planta na alimentação de vacas leiteiras, as diferentes formas de utilização e as melhores estratégias para potencializar o que é benéfico em relação à composição nutricional da cultura. Ele também falou sobre como evitar ou limitar os possíveis problemas do uso da palma na alimentação animal, com base nas pesquisas sobre o tema. Vicente Jr. ainda trouxe a questão da ensilagem da palma forrageira, que ainda está sendo avaliado, e aspectos relacionados à qualidade e composição do leite de vacas alimentadas com palma forrageira.
Frutos das Cactáceas – Produção e Mercado – Anderson Pinto (Senar Minas): Trabalhando com fruticultura há mais de 30 anos, e com experiência também como produtor rural, Anderson Botelho falou sobre o melhor aproveitamento das cactáceas, “plantas em que se utiliza de tudo delas”. Ele destacou a produtividade e comercialização dos principais frutos originários das cactáceas, com foco no “figo da Índia”, o fruto da palma, e a pitaya. O palestrante aproveitou para trazer seu trabalho sobre o aproveitamento dos restos de poda da pitaia, que são as hastes, na alimentação bovina.
Gestão técnica e econômica – Lucas Costa (Proagri): “Vamos falar bastante sobre a questão da gestão, bastante mesmo, na agropecuária. Falar um pouquinho de custo, lucratividade, rendimento, como vai ser o comportamento aí nos próximos meses, quais as expectativas, o que a gente espera da nossa pecuária, principalmente”, avisou o palestrante Lucas Costa, da Proagri. Lucas abordou a agropecuária, sempre ligada com a pecuária de leite e corte, mostrando o manejo, inclusive alimentar, com relação ao custo.
Importância da assistência técnica – Walter Ribeiro (Sistema Faemg Senar / Programa ATeG Balde Cheio): O consultor master do Programa ATeG Balde Cheio falou aos participantes sobre a importância do tempo na assistência técnica e gerencial para a obtenção dos resultados. Walter trouxe dados do Programa ATeG de 2021 e 2022 e mostrou a evolução dos produtores e a importância de eles estarem sempre contando com a ajuda do técnico de campo, “o elo entre o conhecimento e a propriedade deles é o técnico. Mantemos os técnicos sempre atualizados com o que há de mais inovador na pecuária leiteira para poder fazer com que eles obtenham o lucro dentro da propriedade”, disse Walter.
Manejo de pastagens e planejamento alimentar – Helvécio Oliveira (Sistema Faemg Senar / Programa ATeG Bovinocultura de Corte): A palma forrageira é um volumoso que ocupa um espaço importante no clima semiárido como uma opção a mais para atender fazendeiros de todos os portes. A cultura realmente tem características nutricionais bastante relevantes e seguramente traz muitos benefícios à região, se incorporada aos sistemas de produção como uma arma a mais contra o período seco”, afirmou Helvécio. Ele ainda trouxe estratégias e inovações no campo da pesquisa.
Palma Day
O VI Congresso de Palma e Outras Forrageiras para o Semiárido e o Palmatech 2023 terminam amanhã, sábado (21/10) com um dia de campo no Campo Experimental da Epamig em Montes Claros. A programação prevê quatro estações com temas de vão dos programas voltados para o incentivo ao cultivo de palma, até colheita e manejo do gado com a planta.
Os eventos são organizados pelo Sistema Faemg Senar e pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), com apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa/Senar-PB), Sicoob Crediminas e Banco do Nordeste.
*Texto: Janaína Rochido – FAEMG SENAR
Com informações da EPAMIG
Fotos: Erasmo Reis EPAMIG