Técnica denominada ‘aquaponia’ é alternativa promissora de geração de renda para produtores locais
(Belo Horizonte – 13/12/2021) O cenário de escassez hídrica em algumas regiões do Brasil, aliado ao constante crescimento da população, acende sinais de alerta com relação à forma como os alimentos são produzidos e comercializados. Nesses casos, sistemas produtivos alternativos são soluções cada vez mais necessárias para otimizar o uso de recursos naturais e reduzir a emissão de poluentes.
Com foco em questões sustentáveis e na geração de renda para produtores atingidos pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) vai trabalhar sistemas de recirculação de água para produção de peixes integrados à produção de hortaliças, tecnologia chamada de aquaponia.
Segundo pesquisador da EPAMIG, Thiago Freato, o sistema aquapônico permite produção de várias espécies de peixes, como tilápias, lambaris, peixes redondos, bagres e até mesmo peixes ornamentais. Já no caso das espécies vegetais, o sistema é atrativo para folhosas, leguminosas, tubérculos, frutíferas e plantas ornamentais.
“A ideia é ouvir as demandas dos produtores e analisar o potencial de implantar os sistemas, caso a caso. Dentro da realidade de Brumadinho, eu vejo nos sistema de recirculação e aquaponia alternativas promissoras para desenvolver a piscicultura e a produção de hortaliças na região”, avalia o pesquisador da EPAMIG, Thiago Freato.
De acordo com o pesquisador, a aquaponia permite a produção de peixes e hortaliças em uma mesma água circulante, de forma que os efluentes da piscicultura, ricos em nutrientes que seriam descartados, são aproveitados para a produção de legumes e verduras. Além disso, as plantas atuam como uma das etapas do sistema de filtragem, pois retiram o excesso de nutrientes da água e permitem a reutilização dentro do próprio sistema, de forma contínua.
“A aquaponia pode ainda ser desenvolvida em áreas urbanas ou periurbanas, reduzindo o custo com transporte e a pegada de carbono, além de propiciar alimentos mais frescos e seguros na mesa dos consumidores”, complementa Thiago Freato.
Segundo o pesquisador da EPAMIG, Giovanni de Oliveira, a produção de peixes em sistemas aquapônicos resulta em redução drástica do uso de água, uma vez que há apenas 1% de taxa de renovação de água ao dia. Ainda com relação aos benefícios, o pesquisador destaca as possibilidades de otimizar insumos e diversificar os alimentos produzidos pelos produtores.
“A utilização de efluentes dos peixes para a nutrição de hortaliças pode reduzir, ou mesmo eliminar, os gastos com insumos normalmente utilizados no preparo das soluções nutritivas. Esses insumos podem chegar a 30% do custo de produção de hortaliças em sistemas hidropônicos, por exemplo. Essa otimização de custos possíveis em sistemas aquapômicos significam economia e rentabilidade para os produtores”, destaca Giovanni de Oliveira.
As etapas da aquaponia
O sistema de aquaponia apresenta três etapas principais: o cultivo de peixes, normalmente realizado em tanques circulares suspensos; o sistema de tratamento prévio do efluente da piscicultura; e o sistema de cultivo das plantas, que pode ser realizado em canaletas, em bandejas flutuantes ou em substratos.
Em relação ao sistema de tratamento, é necessário a presença de, ao menos, dois compartimentos: um decantador de sólidos suspensos, que realiza a clarificação da água e a redução da carga de matéria orgânica; e um filtro biológico, que executa o processo de nitrificação.
“Esse processo refere-se à transformação da amônia em nitrito e, posteriormente, em nitrato, elemento bem menos tóxico aos peixes e mais facilmente absorvível pelas plantas”, explica Thiago Freato.
O pesquisador Giovanni de Oliveira alerta que a aquaponia possui algumas especificidades quando comparada a sistemas tradicionais de cultivo. O produtor deve estar ciente dos custos iniciais para a implantação dos sistemas e dos gastos com energia elétrica para a recirculação e oxigenação da água. Porém, Giovanni afirma que esses custos tendem a ser recompensados diante do aumento da produtividade, da diversificação de produtos, da proximidade do mercado consumidor e da inserção em um mercado diferenciado, de produtos mais seguros e sustentáveis.
Além disso, a grande vantagem do sistema é a produção de peixes e vegetais durante todo o ano. “Com o sistema é fácil controlar os parâmetros de qualidade da água, como oxigênio dissolvido, níveis de compostos nitrogenados tóxicos e temperatura. Também, é mais fácil controlar a temperatura e a umidade do ar, a incidência de raios ultravioletas e a entrada de pragas e doenças”, conclui.
A EPAMIG é uma empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).