Equipe de pesquisadores também se reuniu com comitiva da Zâmbia para estabelecer uma cooperação técnica com o país
(Belo Horizonte – 26/7/2023) Pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) estiveram no Zimbábue, neste mês, para realizarem dois Dias de Campo e verificarem os resultados iniciais do “Projeto de Fortalecimento do Setor Algodoeiro” no país, iniciativa que faz parte de um Acordo de Cooperação Técnica coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC-MRE). A iniciativa também envolve participação da Emater-MG e do Instituto de Pesquisa do Algodão do Zimbábue (Cotton Research Institute – CRI).
Ao final da missão técnica, os pesquisadores se reuniram com representantes da Zâmbia, país vizinho do Zimbábue, para prospectar desafios e detalhar possíveis soluções a serem trabalhadas em uma cooperação técnica entre a nação africana e o Brasil.
Durante a viagem ao Zimbábue, que ocorreu entre os dias 29 de junho e 14 de julho, Maurício Mendes Cardoso e João Batista Ribeiro Reis, ambos da EPAMIG Norte, visitaram duas Unidades Técnicas Demonstrativas (UTDs) de algodão, instaladas nas cidades de Gokwe, em dezembro/2022, e Kadoma, em janeiro/2023. Além de trocarem informações sobre a condução das culturas com os produtores e pesquisadores locais, Maurício e João participaram de Dias de Campo em ambas as localidades, nos quais apresentaram, respectivamente, as palestras “Exigências nutricionais do algodoeiro” e “Irrigação do algodoeiro: benefícios e monitoramento”.
Tecnologia brasileira promove aumento de produtividade
Em Gokwe, a UTD foi montada junto a uma comunidade rural de produtores da cidade. Em uma metade da unidade, o algodão foi plantado seguindo a técnica tradicional entre os locais, que consiste num espaçamento de 1 metro nas entrelinhas, 30 cm entre plantas e 3,33 plantas por metro linear. Já na outra metade, os pesquisadores da EPAMIG aplicaram tecnologia utilizada por produtores do município de Catuti, no Norte de Minas, cujo espaçamento é de 75 centímetros nas entrelinhas, com 16 cm entre plantas e seis plantas por metro linear.
“Observamos que a nossa parcela teve uma produtividade muito maior, com uma população de aproximadamente 80.000 plantas por hectare, enquanto que na parcela em que foi usada a técnica dos zimbabuanos, o montante foi de 33.000 plantas. Tal número configura uma população baixa, que pode ter sua produtividade prejudicada por qualquer intempérie climática ou problema que possa ocorrer na cultura. Então, os produtores ficaram muito entusiasmados com esses primeiros resultados e disseram que pretendem adotar essa tecnologia, alterando o espaçamento”, comenta o pesquisador Maurício Mendes Cardoso. Ele explica que o plantio do algodão foi consorciado com o milho, para que houvesse rotação de culturas, o que promove a reciclagem de nutrientes no solo, conservação da umidade, ativação da vida microbiana do solo e quebra do ciclo de pragas do algodão.
Já em Kadoma, a unidade demonstrativa foi instalada dentro do CRI, e teve acompanhamento de pesquisadores do instituto. Lá, tanto o espaçamento quanto a adubação foram distintos daqueles utilizados em Gokwe. “Outra diferença foi que, em Kadoma, fizemos o plantio alternado com uma leguminosa (Desmodium uncinatum), que é chamada de ‘folha prateada’ no Zimbábue, e é utilizada tanto para alimentação de animais quanto para melhorias no solo”, relata Maurício. Segundo ele, durante o Dia de Campo, os pesquisadores zimbabuanos falaram sobre alguns dos tratos culturais, como espaçamento, pulverizações, adubações e quantidade de sementes por metro linear.
Experimento com irrigação
Os pesquisadores foram convidados a retornar ao Zimbábue em novembro deste ano, para a implantação de novos cultivos de algodoeiro nas UTDs, desta vez para experimentos com irrigação. “Nessa última visita, percebemos a importância que os zimbabuanos deram ao sistema de irrigação, sobretudo porque alguns deles estiveram no nosso Campo Experimental em Nova Porteirinha (MG), em março deste ano, e observaram o aumento de produtividade nas áreas irrigadas”, detalha o pesquisador João Batista Ribeiro Reis.
Ele explica que EPAMIG e CRI trabalharão em conjunto para a instalação do novo experimento no Zimbábue, a fim de verificar a produtividade do algodão em área irrigada e de sequeiro, ou seja, sem uso de água. “Utilizaremos uma área de aproximadamente um hectare e, em uma metade dela, aplicaremos a técnica da ‘irrigação de salvação’, que consiste no gotejamento de água quando há ausência de chuvas, e na outra, deixaremos sem irrigação. Estou trabalhando no projeto e levantando custos para implantarmos esse sistema ainda no fim de 2023, para obtermos resultados já na próxima safra”, complementa João Batista.
Cooperação técnica com a Zâmbia
Uma delegação da Zâmbia, composta por pesquisadores, produtores e agrônomos, acompanhou os Dias de Campo no país vizinho e fez uma rodada de reuniões com os pesquisadores brasileiros para estabelecerem um acordo de cooperação técnica semelhante em sua terra natal. Nos dias 10 e 11 de julho, a comitiva zambiana se reuniu com os pesquisadores da EPAMIG na Embaixada do Brasil, localizada em Harare, capital do Zimbábue. Com a presença dos embaixadores brasileiro e zambiano no Zimbábue, Vilmar Coutinho e Derick Livune, respectivamente, os pesquisadores construíram uma “Árvore de problemas e soluções” para elaboração de um projeto em parceria com a ABC-MRE, a ser desenvolvido na Zâmbia a partir de 2024.
“As autoridades do país já haviam procurado a EPAMIG para iniciarmos tratativas e levarmos nossas tecnologias para a Zâmbia. Entre abril e maio de 2023, fomos ao país para fazermos um trabalho de reconhecimento inicial e detectar os principais desafios do setor algodoeiro de lá”, lembra o pesquisador Maurício Mendes Cardoso. “Foram reuniões muito proveitosas, nas quais fizemos um levantamento e apresentamos algumas atividades que poderão contribuir para solucionar problemas que eles enfrentam. Estamos com expectativas muito animadoras de que os resultados na Zâmbia poderão ser até melhores que os do Zimbábue”, finaliza o pesquisador João Batista.