Cultivo superadensado possibilita aumentar a produção de proteína por área e o número de colheitas por ano sem alterar as propriedades alimentícias da planta
(Belo Horizonte, 23/12/2020) A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) desenvolve estudos para o cultivo de ora-pro-nobis, também conhecido como lobrobô, em um Sistema de plantio superadensado com colheitas sucessivas de folhas e ramos novos. A técnica permite o aumento da produção de biomassa e de proteína por área e por tempo.
“Com a densidade de 10 plantas/m² e oito colheitas anuais, foram produzidos 5.759 kg/ha/ano de proteínas nas folhas e 9.035,3 kg/ha/ano de proteínas totais incluindo os ramos. Esses valores são altos e até superiores a plantas consideradas importantes fontes de proteína para alimentação humana e animal”, afirma a pesquisadora da EPAMIG Maria Regina Miranda Souza, responsável pelo trabalho.
Além da produção rápida de uma grande quantidade de proteína vegetal de elevada qualidade biológica, as folhas são ricas em minerais, especialmente ferro e cálcio, fazendo do ora-pro-nobis uma excelente opção para alimentação, com perspectivas de importância econômica e social. “Neste sistema de cultivo o teor médio de proteínas das folhas que é de 22,4%, foi mantido”, afirma Maria Regina.
Os experimentos começaram no ano 2009, como parte da tese de doutorado da pesquisadora, defendida em 2013. Desde 2017, novos experimentos, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) vêm sendo desenvolvidos no Campo Experimental Vale do Piranga da EPAMIG, no município de Oratórios (MG). Três genótipos, dentre eles um sem espinhos, estão sendo testados. “O experimento está sendo conduzido com avaliações contínuas para se verificar a manutenção da produtividade e das características morfológicas e nutricionais da planta. O genótipo ‘sem espinho’, em especial, tem criado muitas expectativas considerando a facilidade de colheita e a possível utilização in natura ou seco na alimentação direta para animais”, aponta Maria Regina.
O trabalho tem como objetivos principais o resgate da culinária tradicional de Minas Gerais e o incremento da alimentação, por meio de uma fonte de proteínas, ferro e cálcio. “A difusão da tecnologia por meio de oficinas sobre produção de mudas, cultivo e preparo de ora-pro-nobis, resultou na inclusão da planta na horta e merenda de escolas famílias agrícolas nos municípios de Araponga e Ervália, na Zona da Mata Mineira. Além disso, famílias rurais têm comercializado o excedente em feiras locais”, destaca a pesquisadora.
Características da planta
O ora-pro-nobis (Pereskia aculeata Mill.) é uma planta alimentícia não-convencional (PANC) da família Cactaceae, nativa do Brasil, que ainda é pouco conhecida pela população, embora seja encontrada do Sul ao Nordeste do país. Seu consumo é mais comum na zona rural dos estados de Minas Gerais e Goiás, especialmente, em locais onde seu uso culinário está associado à cultura popular tradicional.
Além de serem consumidas frescas como hortaliça pura ou refogada com frango e costelinha de porco, dentre outras combinações, as folhas secas podem ser convertidas em farinha, a serem adicionadas para o enriquecimento nutricional de macarrão, pães, entre outros produtos. “Trata-se de uma planta perene, rústica e bastante vigorosa, resistente à seca e que se adapta a diversas condições edafoclimáticas. E é mais encontrada em quintais domésticos, como planta única ou em cercas-vivas”, explica Maria Regina.
A pesquisadora acrescenta que “no conhecimento popular, o ora-pro-nobis também é usado para a cicatrização de feridas, prisão de ventre e tratamento de anemia. Pesquisas na área de farmacologia também relatam propriedades funcionais e medicinais, como, por exemplo, as antioxidantes”.