(Maria da Fé – 18/6/2021) A Embrapa Agroindústria de Alimentos e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), com o apoio da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), realizaram, nos dias 16 e 17 de junho, durante o Azeitech, o 2º. Encontro Regional de Perspectivas para a Olivicultura. O evento, que reuniu pesquisadores e produtores da Região da Serra da Mantiqueira, debateu os rumos das pesquisas e o incentivo à inovação na atividade.
As discussões foram divididas em dois eixos centrais: aspectos agronômicos e processos agroindustriais. Logo na abertura do evento, o coordenador do Programa Estadual de Pesquisa em Olivicultura da EPAMIG, Luiz Fernando de Oliveira, e a pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Adelia Faria-Machado, apresentaram os pontos que avançaram desde o primeiro Encontro realizado no ano de 2018, de modo presencial, em Maria da Fé (MG).
“Avançamos em relação ao conhecimento e estudos sobre novas cultivares adaptadas à nossa região. E também na avaliação das características sensoriais dos azeites brasileiros visando ações futuras como zoneamento agrícola e indicação geográfica, por exemplo. Outro ponto importante foram os protocolos para a produção de mudas com foco na prevenção de pragas e doenças. Na EPAMIG, estamos adequando nosso viveiro às boas práticas necessárias para retomar a produção e o fornecimento de mudas de oliveira”, pontuou Luiz Fernando.
Adelia Faria-Machado destacou os estudos envolvendo compostos voláteis dos azeites brasileiros que têm trazido resultados bem interessantes e a evolução dos painéis de avaliação sensorial e o trabalho para a conscientização do consumidor sobre as características e peculiaridades dos azeites nacionais. Uma das principais iniciativas é a formação de um Painel de Análise Sensorial para avaliação de azeite de oliva, no âmbito da Embrapa Agroindústria de Alimentos, no Rio de Janeiro (RJ). Os provadores recrutados e treinados serão capazes de avaliar os azeites brasileiros em parâmetros sensoriais, como cor, aroma, e sabor, alinhados com diretrizes nacionais e internacionais de segurança e qualidade.
Os produtos derivados da olivicultura e os avanços nas pesquisas de avaliação do potencial dos resíduos do agroprocessamento foram outros temas abordados. “Conduzimos ensaios in vitro que indicaram compostos bioativos no bagaço da azeitona após a extração do azeite com alto potencial de atividade antioxidante”, explica Adelia, completando que estes são estudos iniciais.
Demandas dos produtores
Os produtores solicitaram estudos e orientações sobre o controle de doenças e pragas, como a antracnose e a traça-verde. E destacaram a necessidade de uma literatura e de projetos que contemplem as condições da Serra da Mantiqueira no que se refere à recuperação de olivais; irrigação em momentos específicos (uma vez que, os períodos de pré-floração e floração são secos); manejo das diferentes cultivares; e nutrição. A possibilidade do consórcio da cultura da oliveira, com a criação animal, ou mesmo com outras espécies vegetais, também foi levantada.
Outra tópico foi com relação à olivicultura orgânica. Como a atividade é considerada de pequeno porte, não existem protocolos específicos para a recomendação de produtos para o controle biológico. Além disso, as exigências e orientações variam conforme a certificadora.
Também foi levantada a necessidade do desenvolvimento agronômico das azeitonas nacionais, a fim de se obter maior quantidade de azeite e menor teor de água por fruto e, desse modo, melhorar o rendimento de extração.
Em relação à agroindustrialização, a principal demanda apontada pelos produtores refere-se à eficiência e ao rendimento da extração do azeite. Para os pequenos olivicultores, que produzem até 1000 litros de azeite de oliva, é preciso evitar perdas na etapa de filtração, considerando as características intrínsecas do sistema de filtração utilizado, assim como a dificuldade para instalação de centrífuga vertical, que implica em um alto investimento.
Inovação na olivicultura
Os organizadores avaliam que os temas discutidos demonstraram que existe um caminho promissor para a inovação da olivicultura na Serra da Mantiqueira. Não apenas para a produção de azeite de oliva, mas também de azeitonas de mesa, de novos produtos cosméticos e fitoterápicos, e no aproveitamento de resíduos do processamento de azeite como bagaço e folhas.
Outro tópico proposto foram as formas de o setor produtivo apoiar o desenvolvimento das pesquisas. Alguns participantes sugeriram a montagem de ensaios ou de unidades demonstrativas em propriedades comerciais. Desse modo, os produtores assumiriam o custeio do manejo e da manutenção dos experimentos e os pesquisadores ampliariam as áreas de atuação e de avaliação em diferentes condições de clima, altitude, solo e manejo. Parcerias público-privadas para o desenvolvimento de pesquisas e a proposição de demandas às diferentes instâncias de governo, por parte dos produtores, também foram discutidas.
Ao final do evento, os próprios produtores sugeriram novos encontros e a continuidade da troca de informações, em um grupo de trabalho permanente.
Azeitech 2021
Em sua primeira edição, o Azeitech foi proposto como uma evolução do Dia de Campo de Olivicultura e da Mostra Tecnológica de Maquinários e Insumos, anualmente realizados no Campo Experimental da EPAMIG em Maria da Fé. O formato totalmente online foi adotado em função das restrições necessárias ao combate à pandemia da Covid-19.
Em três dias de programação ao vivo, o evento debateu aspectos agronômicos da cultura, a participação das mulheres na cadeia produtiva, e características sensoriais e qualidades dos azeites. Quase oitocentas pessoas do Brasil e de países da América Latina e da Europa se inscreveram para acompanhar as palestras e participar de debates com profissionais com reconhecida atuação na olivicultura do Brasil e do exterior. Estes conteúdos permanecem disponíveis para acesso no site pelas próximas duas semanas.
A Mostra Tecnológica, com estandes virtuais de apoiadores do evento e de empresas de equipamentos, insumos e produtos derivados da olivicultura, está disponível para a visitação em www.azeitech.com.br/feira, até o mês de setembro, assim como o conteúdo do Oliva Play, espaço composto por vídeos e dicas técnicas gravados por pesquisadores da EPAMIG e convidados.