Grande parte da região Sul do estado reúne as condições climáticas ideais também para o plantio de uvas finas, que se transformam em vinhos brancos e tintos de qualidade
Por Agência Minas
Com know-how na elaboração e produção de vinhos finos, o Governo do Estado, por meio da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) realiza, desde 2008, cursos de iniciação e degustação de vinho, abertos aos interessados de qualquer região. Para muitos, é o primeiro passo para investir na atividade profissionalmente.
Os eventos, que ocorrem principalmente em Caldas (Território Sul), onde existe o Núcleo Tecnológico Epamig Uva e Vinho, despertam consumidores e empreendedores para a atividade de produção. O último curso foi realizado dia 10 de novembro e, mais uma vez, todas as vagas foram preenchidas.
À frente dos cursos está a enóloga e servidora da Epamig, Isabela Peregrino. Com quase quatro anos de trabalho na empresa de pesquisa, Isabela já tem muito do que se orgulhar. Em seu currículo está a elaboração de vinhos mineiros premiados em Londres no Decanter World Wine Award 2017, promovido pela revista inglesa Decanter, uma das mais tradicionais publicações do segmento no mundo.
A Epamig oferece dois por ano, com capacidade para 13 pessoas em cada edição, já que as outras atividades da vinícola ocupam muito tempo da equipe, o que impossibilita a promoção de mais capacitações. Entretanto, com o crescimento do setor e o nome da Epamig à frente, Isabela reconhece que a procura é cada vez maior, com o preenchimento das vagas tão logo são anunciadas.
Os avanços da tecnologia para produção de vinhos aumentaram a demanda pela realização do curso em eventos de outras cidades. Mesmo sem sala própria de degustação, como ocorre em Caldas, com pias e taças adequadas à degustação de vinhos diversos, a empresa de pesquisa conseguiu levar, neste ano, o curso à Expocafé (Três Pontas) e ao evento de aniversário da Epamig (Belo Horizonte).
O curso é considerado básico, com duração de duas horas e voltado para pessoas que ainda não têm experiência com degustação de vinho. Com essa proposta, atrai interessados que já são consumidores do produto.
“Explico o que representam as informações trazidas no rótulo, além de como armazenar e o que consumir primeiro na ordem de serviço do vinho, começando pelo espumante, vinho branco, tinto fino e, por último, o vinho tinto de mesa”, relata a enóloga.
Ela acrescenta que na degustação é avaliada a parte visual, seguida da olfativa (relacionada ao cheiro) e da gustativa (relacionada ao gosto ou paladar). Todos os vinhos degustados no curso são elaborados na unidade da Epamig em Caldas.
Sobre os vinhos mineiros, inclusive o premiado Maria Maria, Isabela Peregrino ressalta que o volume de produção do Sul de Minas ainda é pequeno, mas é possível encontrá-los em lojas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Novos empreendedores
O empresário Eronides Silva Reis (46), natural de Americana (SP), participou do último curso. Ele conta, animado, que recentemente adquiriu, com a sua família, um sítio na região de Caldas com o objetivo de cultivar uva e posteriormente se inserir no mercado de vinhos. Os vizinhos da sua propriedade trabalham com o plantio de uva e comentaram o trabalho da Epamig, o que o fez procurar mais informações na internet.
“Já encomendamos mudas para o nosso sítio, sou um apreciador de vinhos, mas quero conhecer mais esse mercado”, afirma um dos futuros produtores de vinho qualificado pela Epamig.
Outro participante do último curso de iniciação e degustação de vinho é o produtor de café e empresário Alexandre Domingos, 38 anos, do município paulista de Espírito Santo do Pinhal. Ele diz que vem acompanhando o crescimento do vinho no Brasil e que a sua loja já tem parceria com uma vinícola do Rio Grande do Sul.
“Na região de Pinhal está surgindo a possibilidade de produtores de café trabalharem também com uva. Recebi a recomendação de um produtor e vim buscar orientação técnica para o plantio da uva e produção do vinho”, conclui Domingos.
Tradição que se renova
O vinho é uma das bebidas mais tradicionais do mundo, ainda que sem consenso histórico de quando e como ele teria surgido, antes mesmo da escrita. No Brasil, a sua chegada se deu com os portugueses na colonização e mais tarde ganhou adeptos da cultura da uva vindos da Espanha, Alemanha, Itália, entre outros países. De lá para cá novas tecnologias foram surgindo e a viticultura crescendo, sempre buscando novos padrões de qualidade.
Em Minas Gerais – a 434 km da capital, a 1.300 metros de altitude, na Serra da Mantiqueira, no município de Caldas — foi criado há 81 anos um dos três centros especializados em pesquisas sobre uvas e vinhos do país. A unidade mineira era vinculada ao Ministério da Agricultura.
Com o passar dos anos, a estrutura passou para o Governo do Estado e se encontra sob a gestão da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que permanece com o mesmo ofício da época da concepção. A região é uma das mais propícias ao plantio de uvas finas.
No entanto, a viticultura sofreu retração nos últimos anos por falta de tecnologia e da falta de atualização dos produtores. Na atividade são cerca de 30 produtores na região Sul do estado, mas esse número pode mudar com o crescente interesse nos últimos anos, inclusive dos cafeicultores que manifestam interesse no plantio da uva em razão do clima ideal.
Apesar de registrar um consumo per capta baixo, se comparado a países vizinhos como Argentina e Chile, o Brasil tem aumentado as vendas de vinho nos últimos anos, com exceção da queda em 2016, sentida pelo comércio que trabalha com o produto nacional e importado. O consumo per capta anual do brasileiro é de apenas dois litros, os argentinos consomem 31,6 litros e os chilenos, 14,7 litros.
Mais informações:
Degustação de vinhos e curso de iniciação
Local: Campo Experimental de Caldas — Avenida Santa Cruz, 500, bairro Santa Cruz, Caldas (MG)
Telefone : (35) 3735-1101