Mastite pode reduzir a produção de leite de uma vaca em até 20% e, em alguns casos, causar perda total da capacidade secretora da glândula mamária
(Belo Horizonte – 23/9/2021) A mastite, ou mamite, pode ser considerada a principal doença que afeta rebanhos leiteiros do mundo inteiro. Os impactos econômicos da mastite são grandes, pois a doença é responsável pela redução da quantidade e da qualidade do leite produzido pelos animais.
Segundo a pesquisadora da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas. Gerais (EPAMIG), Cristiane Ladeira, a mastite é uma inflamação da glândula mamária causada por microrganismos, traumas físicos e agentes químicos irritantes. Contudo, na maioria dos casos, a inflamação ocorre por invasão de microrganismos patogênicos por meio do canal da teta.
“Vários são os agentes causadores da doença, sendo 137 espécies de microrganismos pertencentes a 35 gêneros, com predominância de bactérias dos gêneros Staphylococcus spp. e Streptococcus spp.”, explica Cristiane.
A pesquisadora afirma, ainda, que a mastite é uma doença ligada à diversos fatores, como ao próprio animal, aos agentes etiológicos e ao ambiente. Prossiga com a leitura e saiba mais sobre os cuidados necessários com cada um desses fatores.
Fatores ligados aos animais
Para evitar a mastite é preciso ficar atento às condições físicas dos animais, a começar pela glândula mamária. De acordo com Cristiane Ladeira, uma glândula mamária possui mecanismos naturais de defesas. Mas, após a ordenha, o canal da teta é dilatado e permanece dessa forma por, aproximadamente, duas a quatro horas.
“Para diminuir incidência da mastite é necessário que as vacas permaneçam em pé durante um grande período de tempo para permitir o fechamento do canal da teta e evitar a entrada de patógenos”, destaca Cristiane.
A idade e o número de partos das vacas também são fatores capazes de favorecer a mastite. À medida que as lactações são repetidas, o que coincide com o aumento da idade, as vacas são expostas com mais frequência à possíveis infecções e, dessa maneira, se tornam mais suscetíveis à mastite. Sem contar que os mecanismos de respostas imunes de animais mais velhos são menos eficientes em comparação com os de animais mais jovens.
De acordo com a pesquisadora da EPAMIG, Karina da Silva, as infecções das glândulas mamárias podem ocorrer em diferentes etapas da vida dos animais. Porém, o periparto, a lactogênese e o período seco são fases mais críticas para a mastite.
“No período seco, as vacas não são ordenhadas e não há desinfecção das tetas. Com isso, muitas bactérias não são removidas e ali se multiplicam. Na fase da colostrogênese, duas últimas semanas antes do parto, alguns mecanismos de defesa são acometidos. Já no início da lactação, as vacas estão mais suscetíveis a mastite devido ao estresse sofrido no parto”, enfatiza Karina.
A pesquisadora explica, também, que a resistência das vacas à mastite pode ser influenciada por fatores genéticos. “As características anatômicas do úbere não são iguais para todas as raças. Dessa forma, o formato do úbere e a morfologia das tetas podem influenciar na saúde da glândula mamária e na produção de leite de vacas de uma determinada raça”, conclui.
Fatores ligados aos agentes
A epidemiologia da mastite varia de acordo com a espécie, quantidade, patogenicidade e infectividade dos agentes envolvidos. Dentre os agentes etiológicos, as bactérias são mais incidentes, o que constitui cerca de 80 a 90% dos casos de mastite.
“Além disso, as respostas às infecções são variáveis conforme as características patogênicas dos próprios agentes. Em grande parte, são casos clínicos agudos de evolução rápida, mais concentrados no pós-parto e com altas taxas de novas infecções durante o período chuvoso. Os casos são mais frequentes em períodos secos, quando animais são passíveis de desenvolver mastite crônica e agir como reservatório de patógenos”, afirma a pesquisadora da EPAMIG, Jaqueline de Sá.
Fatores ligados ao ambiente
O manejo do ambiente, a limpeza e o conforto das instalações são essenciais para reduzir as infecções intramamárias. Para a equipe de pesquisadores em bovinocultura da EPAMIG, a presença de alta carga de matéria orgânica e de lama no local de permanência das vacas favorece a ocorrência da mastite.
Vaca mantida a pasto geralmente tem risco reduzido de contrair mastite quando comparada a um animal confinado. Entretanto, algumas condições na pastagem, como áreas baixas, alagadiças ou sombreadas, forragem grosseira e áreas de aglomeração de animais, favorecem o desenvolvimento de microrganismos ambientais e, consequentemente, a probabilidade de contaminações.
Além disso, o clima pode influenciar indiretamente na susceptibilidade à mastite. Nos períodos de elevados índices pluviométricos, observa-se aumento na ocorrência de mastite. Com as chuvas, as condições de umidade e de temperatura favorecem a proliferação e a sobrevivência dos patógenos.
Observados as condições das instalações e os fatores climáticos, é necessário cumprir uma série de requisitos sanitários durante a ordenha. Para começar, o local deve ser arejado e com boa ventilação. O piso deve facilitar o escoamento de água e a instalação deve dispor de torneiras com água potável, sabão, toalhas de papel em local acessível.
O local de ordenha deve ser limpo todos os dias. É preciso remover o esterco e demais sujeiras para evitar a proliferação de moscas e outros insetos. Além disso, todo o lixo deve ser descartado em recipientes apropriados. Outros animais, como gatos, cachorros, patos, galinhas e porcos, não são bem vindos nos espaços de ordenha.
Além disso, não adianta observar apenas cuidados de higiene no local de ordenha sem se atentar para as condições de higiene do ordenhador. O profissional precisa manter as unhas cortadas e limpas, não fumar durante a ordenha, usar touca ou boné para evitar queda de cabelos no leite, lavar as mãos e braços antes de iniciar os trabalhos e sempre que sujá-los. Esses cuidados são importantes tanto para ordenha manual quanto para ordenha mecânica.
Por fim, mas não menos importante, o programa de nutrição de um rebanho leiteiro exerce forte influência na saúde e na produtividade das vacas. Nutrientes como as vitaminas E e A, ?-caroteno e microminerais (selênio, cobre e zinco) afetam diferentes mecanismos de resistência à mastite.
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