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Por que o café de Minas é tão bom?

Por que o café de Minas é tão bom?

Pesquisas em melhoramento genético subsidiam a renovação do parque cafeeiro de Minas e rendem bebidas de excelência

(Minas Gerais, março 2025) Quanta tecnologia há numa xícara de café? O que faz o café de Minas tão especial? Qual o segredo de Minas para uma das bebidas mais apreciadas do mundo? Você já deve ter ouvido essas perguntas e é possível arriscar algumas respostas: ciência, clima e solo favoráveis e dedicação do cafeicultor. Pesquisas direcionadas para o desenvolvimento de novas cultivares são responsáveis por saltos de produção e sabores particulares. Entre elas destacam-se os estudos em melhoramento genético do cafeeiro que desenvolveram cultivares adaptadas para os diferentes sistemas de produção da cafeicultura mineira. 

Alexandre Vilela, no Sítio Refazenda: apostando em cultivares melhoradas geneticamente, associado a técnicas de sustentabilidade, o Sítio Refazenda foi classificado, em 2024, em 5º lugar no ranking de Fazenda Mais Sustentável da Minasul, cooperativa que atende a propriedade

De acordo com o pesquisador em cafeicultura da EPAMIG, Gladyston Carvalho, as pesquisas buscam gerar conhecimento para o cafeicultor e oferecer, por meio da genética do café, aumento de produtividade e transformação no sistema produtivo. “São 587 municípios cultivando café, somos o estado maior produtor de café do Brasil, detemos média de 50% da área cafeeira e 40% da produção nacional. São muitos produtores que dependem da cultura e da pesquisa agropecuária”, justifica. 

Alexandre Vilela é a quarta geração de produtores de café na família. No Sítio Refazenda, em Nepomuceno, Sul de Minas, ele apostou na reestruturação das lavouras com introdução dos novos materiais genéticos. “Nós acreditamos muito em ciência e quando a gente observa as pesquisas, os materiais da EPAMIG têm entregado bastante. Das renovações que temos aqui, Catiguá MG2, MGS Aranãs e MGS Paraíso 2 entram pra nossa realidade com maior produtividade e qualidade”, conta. 

O também pesquisador da EPAMIG, Vinicius Andrade, denota que a área de plantio de café no Brasil não registra grande crescimento, no entanto a produtividade aumentou significativamente desde a década de 1980. “A média que era de sete sacas por hectare, agora atinge 25 até 30 sacas por hectare”, aponta. Ele complementa que as pesquisas também têm por objetivo manter o cafeicultor na atividade, bem remunerado, além de criar condições para sucessão familiar já que se trata de uma das culturas mais relevantes para o Brasil. 

Nova genética do café mineiro

Com décadas de pesquisas científicas, por meio de trabalhos da EPAMIG e seus parceiros, como Embrapa e universidades, Minas alcançou patamar e marco expressivo como maior produtor de café do Brasil. Topázio MG1190, MGS Paraíso 2, MGS EPAMIG 1194, MGS Aranãs e MGS Ametista são nomes de algumas das cultivares desenvolvidas para as condições do estado e que vêm potencializando a produtividade, vigor e a qualidade do café mineiro. Ao todo a EPAMIG já registrou mais de 20 cultivares. 

Como nasce uma cultivar

Primeiro buscam-se as características complementares desejadas de uma e outra cultivar. Esse cruzamento artificial chama-se hibridação. A partir dessa combinação faz-se o avanço de gerações buscando a fixação das características desejadas nas plantas. Esse processo leva de 20 a 30 anos. “Nos primeiros 12 anos de desenvolvimento de uma cultivar o trabalho é todo feito dentro dos campos experimentais. A partir da 4ª geração avaliamos a interação com os diferentes ambientes. Depois desse passo é que podemos registrar e iniciar as recomendações”, comenta Gladyston.

Gladyston Carvalho, pesquisador integrante do programa de Melhoramento Genético do Cafeeiro na EPAMIG

“A EPAMIG desenvolveu um projeto robusto de avaliação de cultivares de café na região do Cerrado Mineiro entre 2016 e 2022. Com o apoio da Federação dos Cafeicultores do Cerrado e do Consórcio Pesquisa Café foram instaladas unidades demonstrativas em propriedades de produtores parceiros. Pelos resultados obtidos foram identificadas cultivares com maior potencial para a região. Com essa experiência de sucesso avançamos para o projeto de “Validação de cultivares de cafeeiros e transferência de tecnologias para as regiões cafeeiras de Minas Gerais”, conta Gladyston.

Atualmente os estudos para recomendação das cultivares para os diferentes ambientes e sistemas produtivos vêm sendo realizados em todo o estado, com potencial para subsidiar tecnicamente a indicação de cultivares para a renovação do parque cafeeiro de Minas.

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MGS Paraíso 2

Conduzida em sistema orgânico na Fazenda Samambaia, em Santo Antônio do Amparo, região do Campo das Vertentes, a cultivar MGS Paraíso 2 foi escolhida pela resistência à ferrugem,principal doença do cafeeiro. “Já sabíamos da sanidade da cultivar então apostamos”, conta Daniela Edel Teixeira, engenheira agrônoma e gerente da fazenda. 

Ela complementa que a busca por uma cultivar apropriada para uma lavoura orgânica também considerou a qualidade sensorial da bebida e a produtividade, “temos a expectativa de 30 sacas por hectare na primeira safra”. A lavoura orgânica também é conduzida com técnicas agroecológicas estudadas e difundidas pela EPAMIG.

Na Fazenda da Lagoa, também em Santo Antônio do Amparo, pertencente ao grupo NKG, está instalada uma das unidades demonstrativas da EPAMIG. Segundo o engenheiro agrônomo e gerente Patrik Lage, a fazenda vem testando novos materiais genéticos desde 2017 em busca de produtividade, precocidade de maturação e qualidade de bebida. 

“A cultivar MGS Paraíso 2 foi um dos destaques. Dos 400 hectares renovados recentemente, 150 foram plantados com ela e o que chamou atenção foi a alta produtividade e a precocidade”. Ele explica também que a resistência à ferrugem e possibilidade de reduzir o uso de defensivos agrícolas são decisivos na escolha da cultivar. ”As primeiras lavouras implantadas com a MGS Paraíso 2 obtiveram produtividade de 45 sacas por hectare na primeira safra”, revela.

Assista o mini doc produzido para esta matéria:

 

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