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Projeto da EPAMIG vai transformar a cafeicultura em Minas Gerais

Projeto da EPAMIG vai transformar a cafeicultura em Minas Gerais

Objetivo do projeto é avaliar o desempenho de novas cultivares de café em propriedades de norte a sul do estado. Resultados trarão mais competitividade e lucratividade para o setor

(Belo Horizonte – 17/6/2021) Um projeto da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), em parceria com a Embrapa Café, vai colocar a cafeicultura mineira em patamares ainda mais elevados. O projeto visa avaliar o desempenho de novas cultivares de café em propriedades localizadas em todas as regiões do estado. Ao fim da primeira etapa, após quatro anos, são esperados resultados indicativos das melhores cultivares em cada região para que Minas produza cafés ainda mais saborosos e sustentáveis.

A cafeicultura é uma atividade tradicional em Minas. O estado é, de longe, o maior produtor de café do Brasil, responsável por 54,9% de toda a produção nacional segundo levantamento do Conselho Nacional de Abastecimento (Conab). Então, por que mexer em time que está ganhando? A resposta do Diretor de Operações Técnicas da EPAMIG, Trazilbo de Paula, é estratégica: para fazê-lo ganhar ainda mais.

De acordo com Trazilbo, as pesquisas com culturas perenes, como o café, têm suas peculiaridades, sobretudo no que se refere à adoção de novas cultivares pelos produtores. Nas últimas décadas, os cafezais mineiros têm sido implantados especialmente com Catuaí e Mundo Novo. As cultivares são produtivas, mas suscetíveis à ferrugem e aos nematoides, além de já superadas pelos avanços de melhoramento genético dos últimos 20 anos.

“A estratégia de demonstrar nas propriedades, junto aos produtores, o potencial de cultivares de café mais resistentes a pragas e doenças, altamente produtivas e com qualidade de bebida reconhecida nos principais concursos nacionais e internacionais, marca o início de uma nova era para a cafeicultura mineira”, destaca Trazilbo.

Os trabalhos de melhoramento genético do cafeeiro são resultados de ações integradas do Consórcio Pesquisa Café. Para o Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Café, Omar Rocha, a cafeicultura tende a ser cada vez mais sustentável e a otimizar o uso de insumos. 

“As vantagens de optar por cultivares provenientes desse esforço nacional de melhoramento genético são enormes. Dentre as quais, a obtenção de materiais com alta qualidade de bebida, resistências múltiplas a pragas e doenças, mais tolerância ao deficit hídrico e a altas temperaturas”, afirma Omar.

As etapas do projeto

A proposta do projeto, por meio de uma parceria com 41 produtores mineiros, é apresentar a eles as novas cultivares de café mais resistentes, produtivas e com alta qualidade de bebida. Os plantios serão realizados no formato de unidades demonstrativas em 43 propriedades de municípios mineiros do Sul, Sudoeste, Oeste, Campo das Vertentes, Zona da Mata, Vale do Rio Doce, Vale do Jequitinhonha, Norte, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (veja imagens a seguir).

A condução das unidades demonstrativas contará com a participação direta dos produtores em todas as fases do processo. Para se obter dados seguros e satisfatórios, a equipe coordenadora planeja realizar, no mínimo, duas colheitas de café, o que configura a primeira etapa do projeto.

Segundo o pesquisador da EPAMIG e coordenador do projeto, Gladyston Carvalho, os produtores selecionados já receberam as sementes das 16 cultivares. O próximo passo será produzir as mudas e, em seguida, iniciar os plantios de acordo com normas de manejo específicas para cada região. Todo o processo será acompanhado de perto por pesquisadores da EPAMIG, Embrapa Café e colaboradores de instituições parceiras.

Gladyston conta que serão avaliadas 100 plantas de cada uma das 16 cultivares nas 43 unidades demonstrativas. No total, 1600 mudas serão plantadas em cada propriedade, o que deve ocupar um espaço entre 0,3 e 0,4 hectare. 

“Vamos visitar todas as propriedades para ajudar o produtor a escolher a melhor área e orientá-lo a fazer o melhor manejo possível. O intervalo entre o recebimento das sementes pelos viveiristas e a finalização do preparo das mudas é de cinco a seis meses. Esse é o tempo que teremos, até meados de outubro, para visitar todas as propriedades e prestar orientações aos produtores”, relata Gladyston.  

Em 2022 será feito o acompanhamento do comportamento inicial das plantas em todas as propriedades. Já em 2023, em setembro ou outubro, são aguardadas as primeiras floradas dos cafeeiros. A EPAMIG, Embrapa Café e demais colaboradoras planejam eventos nas unidades demonstrativas para que os produtores das diferentes regiões acompanhem o potencial produtivo das cultivares. 

A primeira colheita está prevista para os meses de maio, junho e julho de 2024. “Antes da primeira colheita vamos encaminhar aos produtores parceiros um protocolo de preparo de amostras com qualidade para análise sensorial da bebida. Ao longo de todo projeto, serão realizados eventos técnicos e Dias de Campo para promover integração e apresentar aos cafeicultores as características das cultivares nas diferentes regiões. O produtor gosta de ver as plantas carregadas de café. Isso ajuda a escolher qual cultivar irá plantar em sua propriedade. Creio que 2024 será um ano de resultados muito relevantes já na primeira colheita”, projeta Gladyston.

A segunda colheita vai ocorrer em 2025, de acordo com os mesmos protocolos e atividades. Concluídas todas as etapas, a equipe que coordena o projeto vai publicar relatórios com recomendação de cultivares ideais para cada região de Minas, além de informações sobre análises sensoriais, mapeamento de qualidade e ganhos com relação às cultivares tradicionalmente plantadas. 

Sementes de café semeadas em propriedade no município de Varginha. Foto Francisco Ferreira

Produtores engajados

A escolha dos produtores que vão participar do projeto foi feita por intermédio de empresas parceiras, cooperativas e associações de cafeicultores. Segundo o Gerente do Departamento Técnico da Cooxupé, Mário Ferraz, a seleção de produtores cooperados se baseou no perfil de cada um deles. Mário conta que foi dada prioridade àqueles mais receptivos a novas tecnologias e dispostos a colaborar com pesquisas agropecuárias.

“A nossa expectativa com relação ao projeto é que ele sirva de guia de indicações de novas cultivares para recuperar cafezais da região ou iniciar novos plantios. Entendemos que esse trabalho é necessário porque a adaptação de cada cultivar varia de uma região para outra. Esperamos que as novas cultivares que serão avaliadas tenham um maior teto produtivo e sejam, de fato, mais resistentes a doenças e pragas, principalmente à ferrugem do cafeeiro”, pontua Mário.

Cultivares com genética superior

Das 16 cultivares do projeto, seis têm em sua constituição genética acessos  do banco de germoplasma de café da EPAMIG. A estrutura, localizada no Campo Experimental de Patrocínio, conta com mais de 1500 acessos (registros) de espécies, variedades e cultivares de genética elevada, resistentes à ferrugem, nematoides, bicho mineiro, antracnose e outras pragas e doenças do cafeeiro.

As demais cultivares que fazem parte do projeto, inclusive as desenvolvidas por outras instituições, foram escolhidas com base em resultados científicos e técnicos em campo.

De acordo com Trazilbo de Paula, o banco de germoplasma existe desde 2004, desenvolvido sob a coordenação do pesquisador Antônio Pereira (Tonico).

“Estamos contentes em explorar a diversidade do banco de germoplasma de café da EPAMIG. Ele existe justamente para atender aos produtores e contribuir com a economia de Minas Gerais. O trabalho com o banco de germoplasma é contínuo. Sempre teremos metas ambiciosas para alcançar cada vez mais resistência, produtividade e qualidade dos nossos cafés mineiros”, enfatiza Trazilbo.

Cerrado mineiro: um caso de sucesso

As avaliações de desempenho de cultivares de café mais resistentes e produtivas em Minas já é um caso de sucesso nos municípios do Cerrado. A EPAMIG, em parceria com a Federação dos Cafeicultores, a Fundação de Desenvolvimento do Café do Cerrado (Fundaccer) e com apoio do Consórcio Pesquisa Café, identifica materiais mais adequados e produtivos para as condições de clima e solo do Cerrado desde 2019, ano que marcou o início das primeiras colheitas. 

O trabalho conta com unidades demonstrativas implantadas em 25 propriedades de 12 municípios da região, além de uma unidade no Campo Experimental da EPAMIG em Patrocínio. Os resultados finais dos experimentos no Cerrado mineiro serão divulgados após o fim da safra de 2022. Os resultados parciais referentes à safra de 2021 serão divulgados em breve e já mostram o desempenho superior das novas cultivares.

A EPAMIG é uma empresa vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).

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