Cuidar do bem estar e do conforto térmico dos animais melhora a produtividade do rebanho, principalmente de vacas em lactação e no final da gestação
(Belo Horizonte – 30/12/2020) A pecuária leiteira no Brasil evolui ao adotar práticas de bem-estar animal. A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG) realiza uma série de estudos para mostrar o quanto temperaturas elevadas associadas a altas taxas de umidade relativas do ar são fatores estressantes para os rebanhos leiteiros. Diante da redução do desempenho produtivo das vacas nessas condições de estresse, é fundamental reduzir o impacto térmico e promover conforto aos animais.
Segundo o pesquisador da EPAMIG, Marcos Brandão, o estresse térmico ocorre quando as condições ambientais exigem do animal ajustes para manter a temperatura corporal em níveis aceitáveis. Quando a temperatura do ambiente ultrapassa 26-28°C, o animal começa a transpirar em excesso (sudorese), aumentar a frequência respiratória (hiperventilação pulmonar) e a circulação sanguínea periférica. Essas condições estão associadas, ainda, à redução da ingestão de alimentos, diminuição da atividade locomotora e até mesmo da fisiologia reprodutiva.
“Vacas sob estresse térmico, além de perder dois terços da água evaporativa por meio do suor, e um terço por meio da respiração acelerada, perdem também mais minerais via suor do que vacas em zonas de neutralidade. Outros fatores como motilidade retículo-ruminal e taxa de passagem total também são reduzidos. Além disso, ocorre a redução do tempo de ruminação e mudanças no padrão de fermentação ruminal, o que ocasiona menos produção de nutrientes”, aponta Marcos Brandão.
Leia também: Tecnologia e bem-estar são discutidos no contexto da pecuária leiteira
Dessa forma, em ambientes tropicais de produção, a melhor maneira de potencializar a produção das vacas leiteiras é proporcionar sombra, resfriamento e água de qualidade. De acordo com a pesquisadora da EPAMIG, cedida ao Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), Beatriz Cordenonsi, o sombreamento diminui a incidência de radiação sobre o animal, beneficia o conforto térmico e, quando bem projetado, pode reduzir a carga de calor total em 30% a 50%.
Sistema silvipastoril
Para os pesquisadores da EPAMIG, o sistema silvipastoril é um método eficiente para criação de animais produtores de leite, pois fornece conforto térmico aos animais. Marcos Brandão chama atenção para estudos já publicados que evidenciam os impactos positivos do aumento da oferta de sombra em sistemas integrados lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Os estudos concluíram que a produção de embriões das doadoras manejadas em ILPF foi mais de 50% superior àquelas manejadas em pastagens sem sombra.
Porém, o pesquisador enfatiza que é preciso ter atenção a um detalhe importante. O conforto térmico proporcionado por sombra natural não diz respeito apenas à presença de árvores nos piquetes de criação, mas sim à disposição correta dessas árvores no ambiente.
Leia também: Cuidados com bem-estar da bovinocultura leiteira são discutidos em Dia de Campo da EPAMIG
“A formação de pequenos bosques nos piquetes proporciona mais condição de conforto do que a presença de árvores isoladas nas pastagens. A sombra também pode ser criada de maneira artificial com o uso de telhas ou telas. O ideal é proporcionar sombras nas pastagens e nas instalações de manejo, como corredores, currais e salas de espera para ordenha”, afirma Marcos Brandão.
Resfriamento
Associado ao sombreamento natural ou artificial, o resfriamento potencializa o bem estar e traz benefícios às vacas leiteiras. Beatriz Cordenonsi destaca o uso de aspersores de baixa pressão, nebulizadores de alta pressão ou placas de resfriamento para dissipar calor e resfriar os animais.
Resfriar as vacas influencia positivamente na longevidade das vacas, melhora a fertilidade no verão, conduz a menores intervalos entre partos, melhora a eficiência alimentar e reduz a quantidade de alimentos requeridos para produção de leite sob condições de estresse calórico. “Além disso, resfriar vacas durante os meses de verão aumenta o tempo de ruminação e de descanso em comparação com os animais não resfriados”, destaca Beatriz Cordenonsi.
A EPAMIG publicou uma edição do Informe Agropecuário totalmente dedicada à integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Para fazer o download gratuito, clique aqui. A empresa de pesquisa é vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa).
*Texto adaptado da edição 612 da revista Cooperando.